‘FILHO DE BOI’, FILME BAIANO, FALA SOBRE SONHOS E RELAÇÕES HUMANAS
Produção marca estreia de Haroldo Borges em longas-metragens de ficção e chega aos cinemas nesta quinta (1º)
O cineasta baiano Haroldo Borges, 47 anos, estudou comunicação na Universidade Católica no final dos anos 1990. Lá, conheceu colegas com quem mais tarde criaria a produtora – que ele prefere chamar de coletivo – Plano 3 Filmes. O primeiro lançamento da empresa, dirigido por Paula Gomes, foi Jonas e o Circo Sem Lona, um belíssimo e premiado documentário sobre um garoto que morava em Dias D’Ávila e sonhava ter seu próprio circo. Sem dinheiro, o menino improvisou uma lona no quintal de casa e realizou o desejo.
Agora, o universo circense está novamente numa produção da Plano 3: Filho de Boi, que estreia nesta quinta-feira (1º) em Salvador e outras capitais do país. Desta vez, a direção é de Haroldo, com roteiro da mesma Paula Gomes. Mas, como em Jonas e o Circo Sem Lona, neste novo filme, o picadeiro é apenas um pretexto para falar muito mais sobre sonhos e relações humanas.
Em Filho de Boi, primeiro longa ficcional de Haroldo, João (João Pedro Dias) é um menino de 13 anos que tem uma relação conflituosa com o pai (Luiz Carlos Vasconcelos) e que sonha em deixar a pequena cidade onde vive, no sertão da Bahia. Quando um circo chega ao povoado, João faz amizade com o palhaço Salsicha (Vinicius Bustani), que, ao contrário do pai do adolescente, conversa com ele e lhe dá coragem para realizar seus desejos. A partir daí, o drama trata também de temas como masculinidade e preconceito.
Repleto de silêncios, especialmente no início, o filme é um retrato de uma situação real e que não é rara: a dificuldade de comunicação entre pai e filho, especialmente quando a figura masculina se encarrega da educação da família, na ausência da mãe, como ocorre no filme.
“As relações entre homens são sempre pautadas pelo silêncio. Tem uma coisa interessante do machismo: os valores mais cultuados pelo ‘macho’ são a força, a coragem. E no filme, o pai quer que o filho seja ‘duro’. Mas, na verdade, as relações se aprofundam quando há troca de vulnerabilidades, quando a gente mostra para o outro as nossas fragilidades”, defende Haroldo.
Para o diretor e roteirista, o filme mostra como nasce o afeto na relação entre homens: “Salsicha mostra a João novas possibilidades para a vida dele e João passa a viver um dilema: ficar ou partir? Normalmente, aquele que parte é o aventureiro. Mas ficar, às vezes, exige mais coragem que partir”.
Roteiro
Nas filmagens, os atores não tinham acesso prévio ao roteiro. A regra valia tanto para os estreantes, como João Pedro Dias, como para os mais experientes, caso de Luiz Carlos Vasconcelos. “Se você escreve uma cena onde a situação é real e funciona na condição humana, não precisa dar diálogos aos atores, porque a situação os conduz, permite que eles ‘se virem’. O ator assume o personagem e eu pergunto a ele: ‘o que você faria nessa situação’?
Embora essa seja uma experiência vista com certa frequência no cinema, em muitos casos soa artificial e não passa de um maneirismo. Mas, no caso de Filho de Boi, a experiência funciona de maneira bem convincente e natural.
“No início, a gente pensa que, para filmar, existe um ‘manual’. Isso ocorre por influência do cinema estrangeiro, mas o cinema tá livre e você pode encontrar sua própria maneira de filmar”
Haroldo Borges
diretor de Filho de Boi
A receita para que essa experiência funcionasse bem foi “filmar muito”, segundo o diretor. “Mas isso não quer dizer filmar loucamente, mas experimentando”, ressalva Haroldo, que estima algo em torno de mais de 200 horas filmadas. As gravações, claro, ocorreram em formato digital, como acontece quase sempre hoje. “Mas fiz as contas: se fosse filmar em película, como era anos atrás, eu ia gastar cerca de um milhão de reais, que é praticamente o orçamento do filme todo”.
Matéria do correio24horas